Onde moro há duas casas no mesmo terreno. No jardim de uma delas havia um lindo pé de resedá, plantado por meu marido. Há alguns meses, tivemos a infeliz surpresa de ver a jovem árvore ser cortada praticamente rente à terra, sob a alegação de que estava atrapalhando a primavera que crescia próxima, o que não é verdade, pois as duas plantas conviviam harmoniosamente. Lindamente. A intenção era extirpar a árvore e, para isso, o pequeno tronco que sobrou também seria arrancado.
Ficamos muito tristes com o ocorrido, pois a atitude adequada é plantarmos árvores e não arrancarmos, sobretudo quando se faz isso por puro capricho, de forma impensada, sem avaliar o impacto, sem se importar com a destruição dos ninhos de passarinhos que havia sobre os galhos da linda e mimosa árvore que todo ano florescia exuberantemente. Antes que a planta fosse destruída de vez, fiz uma tentativa de salvá-la. Pedi a alguém fisicamente mais forte do que eu que arrancasse o que sobrara do tronco. Foi preciso fazer um grande buraco e não se conseguiu retirá-lo sem danificar as raízes. Mesmo assim, a transferi para o meu pequeno jardim. Sabia que as chances de a arvorezinha sobreviver eram poucas, mas, não desisti e me emocionei muito quando, algum tempo depois, vi pequenos brotinhos surgindo no caule aparentemente morto.
Quando se é feliz, tudo é motivo para comemoração e comemoramos alegremente a ressurreição da resedá, com direito a foto e texto no Facebook. Acompanhei o crescimento dos brotos com muita atenção, ainda temerosa de que eles não se desenvolvessem, devido ao dano nas raízes, mas, os cuidados e a atenção foram tantos que os brotos cresceram lindos, já estão com quase um metro de altura e logo terei de fazer o desbaste para que cresçam apenas os galhos mais fortes, garantindo a sobrevivência e a beleza da amada árvore. Esta semana, porém, fui surpreendida por uma invasão de pulgões que tomaram completamente todas as folhas. Fiquei tão desesperada que joguei veneno spray, sem saber se o que funciona para mosquitos e pernilongos funcionaria também para os nefastos pulgões. Bem, não era a atitude mais certa, mas, deu uma boa diminuída e o resto controlei com um remédio caseiro feito com alho, vinagre e sabão. Não é um simples exército de pulgões que vai destruir a árvore que tem lutado tanto para sobreviver!
Esse episódio me levou a fazer uma analogia com pessoas. Contrariando as expectativas negativas, o remanescente do tronco, com as raízes danificadas, conseguiu sobreviver, só que vai levar alguns anos para atingir o tamanho que tinha e voltar a florescer. No entanto, eu olho para aqueles brotos verdinhos e não me entristeço pensando que era para a árvore estar carregadinha de flores, pois esta é a época do seu florescimento. Em vez de lamentar, eu olho para ela e vejo flores, vejo as flores que virão e os novos pássaros que farão seus ninhos nos galhos que um dia serão grandes e fortes de novo. Tentar salvar a árvore antes que ela fosse completamente destruída era a única atitude que eu poderia tomar, não tinha como colar o caule e a copa que foram arrancados. O resto do trabalho só o tempo e a natureza poderão fazer. Será necessário cultivar o desprendimento e a paciência para ver os resultados.
Assim como essa e tantas outras árvores, muitas pessoas também sofrem atos de violência e ficam tão destruídas, tão traumatizadas que nem sempre conseguem sobreviver e, se sobrevivem, ficam tão dilaceradas, tão machucadas que parece que nunca mais vão conseguir florescer, nunca mais vão conseguir recuperar o ânimo, a fé na vida, amar, reencontrar o seu norte. Conviver com pessoas assim não é fácil. Algumas vezes conseguimos transplantar o tronco cortado para um lugar seguro a tempo, tentando garantir a sua sobrevivência, outras vezes, não há nada que possamos fazer e só a natureza e a própria árvore serão responsáveis pelo milagre do renascimento. Sempre que possível – e na medida que estiver ao nosso alcance – podemos e devemos regar, adubar, tentar desbastar os brotos que crescem desordenados e eliminar os pulgões que ameaçam a luta de quem tenta sobreviver, recomeçar, renascer.
Pessoas destruídas costumam ser indóceis, muito mais difíceis de lidar do que uma planta ameaçada e chega um momento que não nos resta outra atitude além de mantermos a necessária distância sem, no entanto, perdermos a fé e a esperança, deixando que o tempo e a natureza façam a sua parte. Enquanto há um mínimo broto, uma pequena folha verde e alguns pedaços de raiz que possam se restaurar não podemos desistir. Não é fácil. Ver apenas um tronco ressequido tentando a todo custo sobreviver, com frágeis brotos no lugar da linda copa que foi destruída nos entristece e chega a fazer parecer que não é possível que a pouca seiva que restou seja suficiente para recuperar aquela vida, mas, a nossa atitude mais humana, mais amorosa e mais digna é olhar para aquela árvore e não cansar de dizer: “Eu vejo flores em você!”.