Bati meu recorde de menos quilômetros pedalados: apenas 12km. A ideia seria ir mais longe, mas passei por uma praia super bonita, El Tunco, com uma vilazinha aconchegante que me chamou a atenção, então eu parei. Não só parei como abusei: fiquei duas noites. Mas pra compensar, no outro dia estiquei o pedal até mais uma fronteira. Sai cedinho e no fim da tarde eu cheguei em uma cidade chamada Cara Sucia (em Português, “Cara Suja”). E com a minha cara-de-pau eu fui até a prefeitura da cidade, enxuguei o suor, fiz cara-de-dó e fui falar com o responsável. “Então tio, é que eu tô viajando de bicicleta né! E ai as prefeituras sempre me ajudam, ai já sabe né? Vim aqui pedir ajuda também né, vai que… sei lá”. E a resposta foi imediata:
– Ôôôô Manoel, faz um favor? Leva o menino lá no hotel do centro, diz pra Maria trazer o boleto aqui que depois a gente acerta.
Dormi bem, acordei as 5h e segui rumo ao décimo quarto país, a Guatemala. Carimbei o passaporte as 7h da manhã e entrei agradecendo infinitamente ao meu Papito por mais uma conquista, e por estar cada dia mais próximo do meu tão esperado México. Na hora do almoço eu já estava cansado, a pedalada parou de render e resolvi parar. Entrei na primeira cidade que apareceu, Chiquimulilla, onde mais uma vez utilizei o dinheiro público para dormir (Sem vergonhice? Antes pagando hotel pra turista do que iate pra governador corrupto). E dessa vez tinha até piscina…
E no dia seguinte eu fiz de novo, só que agora a prefeitura era responsável por uma cidade chamada Escuíntla. Mas nem tudo são flores, e dessa vez, a piscina foi substituída por baratas. Antes de entrar no banho, matei uma aranha e uma baratona que estavam na parede, e logo que deitei na cama para dormir, consegui acertar o chinelo em mais duas que estavam perambulando pela habitação. Dormi com um olho fechado e o outro aberto, rezando pra que as nojentas tivessem medo de altura. Dormi mal essa noite, acordei as 5h e as 6h já estava na estrada, rumo a uma grande subida que me levaria até a maravilhosa cidade de Antígua.
Cheguei as 10h da manhã e me encontrei com uma pessoa chamada Zaklina, que vem lá da Polônia e está viajando sozinha por aí. Nos conhecemos num hostel na Costa Rica, há mais de dois meses, agora nos reencontramos e ela está me acompanhando por uns dias. E devo confessar uma coisa: eu passei um bom tempo “sozinho” e estava sentindo falta de alguém pra compartilhar momentos e sentimentos, e finalmente encontrei alguém bem legal para isso.
Passamos duas noites caminhando pelas charmosas ruas de Antígua, cidade colonial, aos pés do Vulcão de Águas, cercada de montanhas e desenhada com carinho, com antigas casas, todas coloridas, ruas de pedra, negócios bem decorados, praças cheias de vida, e pra deixar o lugar mais incrível ainda, um mini-terremoto, justo quando estávamos lá. Desde que entrei no Chile, há mais de um ano, venho sentindo um frio na barriga e ao mesmo tempo uma imensa curiosidade de sentir a terra tremer. Vim me esquivando de alguns pequenos tremores, que sempre ocorriam em lugares onde eu já havia passado, ou pelos quais eu ainda iria passar. Mas aqui a história foi diferente, e eu estava pertinho do epicentro. As 6h da manhã acordei com a cama vibrando, abri os olhos como um bêbado que não sabe o que está acontecendo, e logo depois da forte vibração, o chão começou a dançar, de um lado pro outro, com suavidade, porém, com uma energia impressionante. Pulei da cama, coloquei a toalha no corpo e sai do quarto correndo, com o coração na boca, imaginando que as paredes pudessem vir abaixo. Foram vários segundos me equilibrando, e depois que passou, comecei a rir e agradeci por não ter sido grave. Que sensação impressionante. Sentir a terra balançar foi inesquecível, de verdade…
De Antígua, seguimos para o Lago Atitlan, um lugar também muito especial, diferente, com uma energia estranhamente leve e positiva. Passamos três noites aos pés do lago, com vista para três vulcões, um lugar cheio de misticismos e uma cultura Maia muito forte. Voltamos pra Antígua, onde reencontrei com minha Princesa, que ficou sozinha me esperando. No dia seguinte segui viagem sozinho.
Semana que vem eu conto pra vocês, caros leitores mais um pouco de minhas aventuras em busca do meu sonho. Fiquem com o Paizão e tenham todos uma ótima semana. Beto.