Conta a lenda que, enquanto Roma ardia em chamas, Nero tocava sua lira. Nero Claudius Caesar Augustus Germanicus governou o Império Romano de 37 d.C até sua morte, em 68. Implacável perseguidor de cristãos, Nero era temido por todos. Entre suas vítimas estariam a própria mãe e seu meio-irmão, Britanicus. Dizem que Nero só sossegava diante de uma bela porchetta.
Isso mesmo. Porchetta era o prato preferido do tirânico imperador, que mandava vir da Úmbria, através da Via Appia, legiões de porchettas douradas e crocantes por fora e suculentas e macias por dentro.
Bom, isso tudo é história, e, como os relatos das atrocidades do imperador são descritas por historiadores como Tácito e Suetônio, seus desafetos, não dá para confiar cegamente, não é mesmo? A verdade é que tudo indica que a porchetta é originária da região da Úmbria, provavelmente de origem etrusca, e que era tradicional nas festas de final de ano.
Hoje a porchetta é uma verdadeira instituição italiana, como a pizza e o risoto. Você encontra porchetta em toda a Bota, e cada região tem um segredo para que a sua porchetta se torne única e exclusiva. Na Toscana, por exemplo, nas feiras de cada vilarejo, ela é vendida em veículos tipo Kombi, abertos atrás, onde a porchetta é fatiada para rechear deliciosos paninos.
Porchetta
A carne para a porchetta é a mesma que se usa para fazer torresmos, ou para, depois de defumada, dar origem ao bacon. Idealmente, toma-se a metade do nosso querido suíno, retira-se a cabeça, a paleta, o pernil e o carré.
Sobra uma manta de carne, com maior concentração de gordura na extremidade próxima ao abdômen, e mais carne do lado oposto, próximo às costas. Deste lado são retiradas as costelas, deixando a carne desossada. O formato que fica é o de uma manta retangular, levemente arredondada.
Se não quiserem ter o trabalho da desossa, um bom açougueiro faz isso pra você. Só descrevi o processo todo para você saber o que está comprando.
Uma vez de posse da peça, abra-a, deixando a pele para baixo. No lado mais grosso, pode abrir um pouco em borboleta. Assim a manta fica maior e mais fácil de rechear.
Feito isso, vamos ao recheio.
Vamos à receita
Recheio:
– Sal e Pimenta do reino quanto baste.
– 4 dentes de alho picados.
– 1 cebola grande picada.
– 3 colheres sopa de azeite.
– Raspas de 2 limões.
– Suco de 2 limões.
– 100g de avelãs.
– 100g de uvas passas.
– Tomilho e alecrim quanto baste.
– 3 pães ralados grosseiramente.
– 200 ml de vinho de sobremesa.
– 200g de mortadela.
– 200g de bacon fatiado.
– Folhas de erva doce quanto baste.
Preparo:
Com a manta aberta e temperada com sal, pimenta do reino e o limão, recheada com os outros ingredientes, enrole a manta como se fosse um rocambole, amarre muito bem, esfregue a pele com sal grosso e pimenta do reino. Unte com azeite e regue com vinho tinto. Leve ao forno numa assadeira, sobre cenouras cortadas ao meio para não grudar no fundo da assadeira. Comece com o forno bem quente e depois vá diminuindo a temperatura ao longo do tempo. Deve levar uma hora para cada quilo de carne.
Pronto. Parece difícil mas não é. E se você juntar um grupo de amigos para dar palpite, fazer as caipirinhas, preparar os petiscos, vai ficar muito mais divertido.
Para acompanhar recomendo um risoto à millanese ou um pão ciabatta e para beber? Como usamos vinho tinto no preparo do prato, a etiqueta sugere um bom vinho tinto, encorpado, quem sabe um toscano. Mas se você estiver preparando a porchetta para o almoço de um dia ensolarado, vale acompanhar com cerveja bem gelada. Bom apetite!