CÁTEDRA
Em 1966 os alunos que cursavam a quarta série ginasial da Escola de Comércio, aprovados, acharam que estavam matriculados automaticamente na primeira série do curso em Técnico em Contabilidade, que tinha a duração de três anos. Ledo engano! A matrícula era necessária devido ao número de vagas por imposição do Ministério da Educação, porque a Escola era reconhecida por aquele órgão. Por falta de informação alguns alunos não se matricularam e perderam a vaga por outros, vindos de outros estabelecimentos, inclusive do “Ginásio Zacharias”.
O fato foi destaque nos meios estudantis de Monte Alto e aparentemente alguns alunos “de matrícula automática” ficariam fora. Na realidade, o excesso era de quatro vagas, todas não preenchidas pelos alunos originários da escola. As quatro caíram para uma porque três interessados desistiram, a única excedente recaiu neste que vos fala, que aceitou frequentar as aulas como ouvinte, acreditando que haveria mais desistência. Realmente houve e fui matriculado oficialmente três meses depois do ano letivo. A “Escola de Comércio” era disputada na região, um símbolo do ensino do interior do Estado.
TUCALO
Um aluno da “Escola de Comércio”, o Arthur de Lucca, codinome Tucalo, escreveu e publicou uma interessante narrativa, denominada “Meninas de Ontem”, um volume com 64 páginas, elaboradíssimo, contando parte de sua juventude (Menos as autocensuradas), revelando nomes e locais dos acontecimentos. O Arthur, que poderia ser incluído no velho axioma, ter filhos, plantar uma árvore e escrever um livro, pode mais – bem mais – preserva três ícones de sua raíz: lê esta coluna, é cidadão de Monte Alto “ad eternun” e é alma viva da cidade.
ÚLTIMA VIAGEM
No citado livro do Tucalo há uma página pungente dedicada ao Ico – Dr. Innocêncio Henrique D. Amato, depois do seu falecimento. O texto me lembrou de uma homenagem que minha classe da “Escola” fez, escrevendo uma mensagem no quadro negro, a um aluno tragicamente falecido, por afogamento no “açude” de Aparecida de Monte Alto, o japinha Paulo Tanno. A homenagem ficou escrita durante uma semana, ninguém apagou, as aulas eram, nesse tempo orais.
A homenagem foi elaborada em várias mãos (ninguém copiou para a posteridade, uma vez apagada, sempre apagada). Uma aluna emocionada, disse: “Quando eu morrer quero uma lembrança assim, se preciso morro amanhã mesmo”.
CATARATA
Quando Albert Santos Dumont fazia suas experiências aéreas em Paris, ouviu os franceses elogiaram a maior beleza natural do Brasil, as Cataratas de Iguaçu. Assim que veio visitar o Brasil ele fez questão de ver o local. Quando chegou na divisa geográfica das cataratas, foi proibido de entrar, as terras eram todas de particulares, as águas inclusive. Foz do Iguaçu tinha donos! Ele voltou à fazenda do seu pai, em São Paulo, e disse que a parte dele nas terras poderiam ser vendidas, com o dinheiro ele compraria as cataratas e doaria ao país. O pai de Albert fez mais, usou a influência política que tinha como um dos maiores produtores de café do país e Foz do Iguaçu foi desapropriada.
ALFACINHA
Em 1750 reinava em Portugal D. José I, que viria a ser avô de D. João VI, porque era o pai da Dona Maria I, que veio ao Brasil com o filho, na condição de príncipe regente. (não devemos esquecer que o Primeiro Ministro português, Marques de Pombal, era contra a execução dos Inconfidentes, que para fazer oposição, Dona Maria I escolheu um para morrer, Tiradentes).
O poderoso primeiro ministro defendia, para a colônia brasileira, uma capital do império, prevendo que Portugual era presa fácil para as outras monarquias da Europa (era vidente, Napoleão ainda não existia). Em caso de emergência, a metrópole viria para cá, porém em 1755, um terremoto arrasou Lisboa e o plano foi esquecido. (curiosamente, a capital seria Nova Lisboa, que seria construída no paralelo 15 da colônia, onde está Brasília).
Quem nasce em Lisboa ou mora lá é lisboeta ou alfacinha!
SENZALA
Não é necessário lembrar a data da abolição da escravidão no Brasil. Nosso país era um Império Parlamentarista. O Parlamento tinha dois partidos e o chefe de gabinete era o primeiro-ministro eleito pelo partido majoritário como a anuência do imperador. Uma lei era votada no parlamento e depois levada à aprovação do primeiro ministro, que por sua vez era levada à apreciação do imperador, que tinha o poder de veto. Foi assim com a abolição. O parlamento aprovou, no dia 10 de maio (sexta-feira) de 1888, uma lei que proibia a escravidão no Brasil.
No domingo, dia 13 de maio de 1888, o barão de Cotegibe, primeiro-ministro do Império, foi até o palácio imperial anunciando à Princesa Regente, Isabel, que o Brasil havia acabado com a escravidão, restando a ela promulgar a lei ou vetar.
Nos anais do Parlamento não havia menção à Lei Áurea, o nome foi proposto pela princesa Isabel, como também era um texto longo que declarava os libertos com direitos civis e à indenizações diversas. O tempo de trabalho estava previsto no contexto, dizem que os líderes abolicionistas abriram mão dos direitos, porque a Lei Áurea poderia perder a constitucionalidade, por ser promulgada pela Regente e não pelo Imperador, que era o único a ter poderes na mudança da constituição. Assim focado, a Lei Áurea poderia ser declarada inconstitucional, porque na origem o texto legal era diferente.